segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sustentabilidade X Nutrição

Estou impressionada, e muito feliz, como está sendo cada vez claro que para um mundo melhor devemos prestar atenção no que colocamos em nosso prato!
E estou mais feliz ainda por saber que cada vez mais pessoas, instituições, empresas e profissionais de saúde se dão conta disso.

O exemplo é este informativo que recebi de uma empresa de Consultoria em Nutrição, referência em nutrição funcional (diferente de alimento funcional) no Brasil, a VP Consultoria.

fonte: http://www.vponline.com.br/_site/newsletter


SUSTENTABILIDADE


Definida pelo Our Commom Future, na WCED de 1987, como a capacidade de satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias, a sustentabilidade é também um desafio social que, entre outros fatores, envolve leis nacionais e internacionais, planejamento urbano e transporte, estilo de vida local e individual, consumo ético, planejamento responsável e gestão de recursos (1,2). Já em ecologia, a palavra sustentabilidade descreve como sistemas biológicos conseguem se manter diversos e produtivos ao longo do tempo (2).

Figura 1: Esquema do desenvolvimento sustentável: a confluência das três partes constituintes (3).


Nesse contexto, surge a crescente preocupação com o consumo sustentável, que incorpora o impacto no clima e no meio ambiente, proveniente das escolhas diárias dos seres humanos. Alimentação, o consumo de energia elétrica domiciliar e meios de transporte respondem por grande parte dos maiores impactos sociais dos consumidores (4). Dessas variáveis, a alimentação representa uma oportunidade única para o consumidor de reduzir seu nível de impacto pessoal devido à grande subjetividade da dieta humana (4).

Ao redor do mundo, estima-se que 2 bilhões de pessoas se alimentam com dietas baseadas no consumo de carne, enquanto que 4 bilhões de pessoas optam pelo vegetarianismo (5). Somente nos Estados Unidos, o sistema de produção de alimentos usa em torno de 50% da área total de terras disponíveis no país, 80% da água doce e 17% dos combustíveis fósseis consumidos lá (5). Tal cenário se mantém no mundo todo, deixando claro que, seja a dieta humana baseada no consumo de carnes ou vegetais, o sistema de produção de alimentos está longe de poder ser considerado sustentável (5).

O aquecimento antropogênico
Um das questões ambientais mais urgentes, dentro do tema sustentabilidade, é a mudança do clima global relacionada à crescente concentração atmosférica de gases causadores do efeito estufa (6). Tal aquecimento antropogênico é causado principalmente pela emissão dos chamados greenhouse gas (GHG) e non-GHG, ou gases causadores do efeito estufa, como o dióxido de carbono, metano e óxido nitroso (7).

A maior fonte de emissão de gás carbônico é derivada do uso de combustíveis fósseis. Já a decomposição de resíduos provenientes da pecuária e a atividade agrícola são as maiores fontes da emissão de metano. A indústria e a agricultura são as maiores responsáveis também pela emissão de óxido nitroso (8). A introdução do sistema de agricultura e a domesticação de animais afetaram, marcadamente, o meio ambiente e os impactos negativos da produção e consumo de alimentos já podem ser sentidos em todo o mundo (9,10).

O impacto da criação de animais
Quando o dano ecológico causado pela criação de animais é examinado, certos aspectos devem ser considerados. Primeiramente, o requerimento de terras para a produção de carne é 10 vezes maior do que para a produção de vegetais. O estrume, produzido em grande escala pela pecuária e utilizado na agricultura como adubo, gera grandes níveis de nitratos potencialmente cancerígenos que contaminam plantações de hortaliças e água potável. A criação de animais requer uma quantidade considerável de energia, combustíveis fósseis e água doce e leva ao desmatamento – que, devido às queimadas, libera mais CO2 na atmosfera -, para a geração de grandes áreas destinadas a pasto (10,11). 


Figura 2: O desmatamento para o cultivo de animais (12).


Somente nos Estados Unidos, a população de gado consome sete vezes mais grãos do que é consumido diretamente por toda a população americana. O montante de alimentos destinados a atividade pecuarista americana seria suficiente para alimentar 840 milhões de pessoas que seguem uma dieta vegetariana. Cerca de 40% da produção mundial de grãos é destinada a alimentação destes animais (5,10). Além disso, há o despejo de minerais como boro, mercúrio, chumbo, cloro, entre outros, provenientes de fertilizantes, pesticidas e defensivos agrícolas usados no cultivo de grãos para sua alimentação. Tais elementos tóxicos infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos, poluindo-os (11,12).

Outro agravante é o despejo no meio ambiente de antibióticos, hormônios, analgésicos, bactericidas, fungicidas, vacinas e outros fármacos que via urina, fezes, sangue e vísceras inevitavelmente atingem os lençóis freáticos (12).

Ocorre também a liberação de óxido nitroso – trezentas vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2 –, gás carbônico e metano, que são extremamente nocivos à camada de ozônio (10,12,13).

A agricultura nociva
O indiscriminado uso de fertilizantes, pesticidas, agrotóxicos e recursos não renováveis não só poluem importantes fontes de água doce, como também são responsáveis pela emissão na atmosfera de GHG e non-GHG. O tipo de cultivo, a falta de rotação de culturas e o desmatamento são grandes responsáveis pelo empobrecimento do solo (10).

A solução para tal problema seria a agricultura orgânica que prima pelo controle natural de pragas, rotação de culturas, uso de leguminosas, como adubo, entre outras práticas. Adicionalmente, a comida deve ser minimamente processada, empacotada e transportada (10). Práticas difíceis de manter no dia a dia pela maioria da população, devido ao alto custo e "falta" de tempo.

A nutrição sustentável na vida diária
No dia a dia, a nutrição sustentável se baseia nas escolhas e prioridades individuais. Um dos pilares desta seria o consumo de hortaliças frescas e, preferencialmente, provindas de fazendas orgânicas locais, uma vez que práticas como tipo de transporte e distância percorrida, congelamento, uso de agrotóxicos, grau de processamento e tipo de preparação aumentam a emissão de gás carbônico na atmosfera (5,7). Outro ponto importante é a diminuição da quantidade de proteína animal ingerida (incluindo os laticínios e ovos), já que o aumento do seu consumo contribui para o aumento dos danos relacionados com a atividade pecuária (5,7,12).

O tipo de transporte e distância percorrida, processamento, estocagem, comercialização e preparação dos alimentos, entre outros, influenciam diretamente na emissão de GHG e non-GHG (5).

Conclusão
A ciência da nutrição fez grandes descobertas no último século. Entretanto, a população continua a crescer e o planeta Terra está à beira de grandes mudanças climáticas, com suas implicações para a produção de alimentos e escassez maciça de energia sustentável e água potável. Tal ciência foi boa em certos pontos, porém ignorou e negligenciou o bem-estar planetário e, portanto, os determinantes básicos da saúde e bem-estar humanos. Nós, agora, devemos garantir que a prática da nutrição suporte ecossistemas sustentáveis e meio-ambientes saudáveis (13). Nutricionistas, temos papel importante nesta etapa, pois devemos ajudar nas melhores escolhas de nossos pacientes/clientes.

Assim, a visão do mundo sustentável depende de cada indivíduo que se sente responsável pelo meio-ambiente e pela saúde ambiental e humana, de forma geral (10). Entretanto, a visão da nutrição sustentável é também uma questão de prioridade pessoal. Consumidores interessados e bem informados serão capazes de pesar os argumentos e fazer as escolhas necessárias para o bem do mundo em que vivem (9). 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.Comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento:Nosso futuro comum.1987.
2 – ONIONS, T.C. The Shorter Oxford English Dictionary. p. 2095.Oxford: Clarendon Press.1964.
3 – ADAMS, W.M. (2006). The Future of Sustainability: Re-thinking Environment and Development in the Twenty-first Century.Report of the IUCN Renowned Thinkers Meeting, . 2009.
4 – WEBER,C.L.;MATTHEWS, S.H. Food-Miles and the relative climate impacts of food choices in the United States.Environ. Sci. Technol, p.3508-3513.2008.
5 – PIMENTEL,D.;PIMENTEL.M;Sustainability of meat-based diet and plant-based diets and the environment.Am J Clin Nutr,78(suppl):660S-3S.2003.
6 – ESHEL,G; MARTIN,P.A.; Diet, energy and global warming. Earth Interactions. Volume 10, paper No.9, Page 1, 2006.
7- CARLSSON-KANYAMAK,A;GONZÁLEZ,D.A.;Potencial contributions food consumption patterns to climate change. Am J Clin Nutr,89(suppl):1704-9S.2009.
8 – KRAMER,KJ et al.; Greenhouse gas emissions related to Dutch food consumtion.Energy Police;p.203-216.1999.
9 – REIJINDERS,L;SORET,S; Quantification of the environmental impact of different dietary protein choices. Am J Clin Nutr,78(suppl):664S-8S.2003.
10–LEITZMANN,C. Nutrition ecology: the contribution of vegetarian diets. Am J Clin Nutr,78 (suppl):657S-9S.2003.
11 – PIMENTEL,D;RIMENTEL,M. Population growth, environmental resources and global foods.
J Sutain Forestr;9:35-44. 1999.
12- SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA; Impactos sobre o Meio Ambiente do Uso de Animais para Alimentação. 2007.
13 - WAHLQVIST, M.L.; The new nutrition science: sustainability and development.
Public Health Nutrition, 8(6ª),766-772.2005.

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